quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sobre posters e direção de arte

Uma vez revelei neste blog (relembre aqui) que me importava com o cartaz e o título de um filme na hora de decidir se valia a pena assistir ou não. Não é coisa de maluco. Cartazes e títulos servem para vender, e não deve ser raro um ou outro ser reprovado por produtores pelo simples fato de não ser comercial o bastante.
Se um dia eu vier a dar aula em faculdades de publicidade, tirarei uma hora para falar sobre direção de arte no cinema. É de lá que vem a maior parte das referências que carrego, e dizem que dou pro negócio, pena eu não ter paciência suficiente para engolir o pacote Adobe.
A seguir, apresento 10 posters. Adoro alguns, outros nem tanto. Aprendi, porém, que em publicidade não se deve fazer o que pensa ser mais agradável, mais inteligente ou refinado. Deve-se, antes, falar a língua do público-alvo. Deve ser bonito para ele (público), antes de ser para você (diretor de arte ou design). Em propaganda, adequabilidade é mais importante do que criatividade.
Vamos lá, vou começar com os meus preferidos (entre os 10). Observem o que eles têm em comum.
As Horas: para mim, o melhor desta série e um dos melhores que já vi.
Jogos Mortais 4
Vicky Cristina Barcelona
O Labirinto do Fauno: o filme é um banquete para designers e DAs.
Quatro filmes de gêneros diferentes (dois dramas e dois suspenses), quatro posters excelentes. A primeira frase de qualquer manual de direção de arte deveria ser: "Menos é sempre mais". Quanto menos informação, mais forte é a mensagem. E os quatro exemplos corroboram a lição. 
Cartazes de dramas tendem a se usar de tons pastéis e há predominância do branco ou do preto. Fotos são muito utilizadas (alguém lembra do cartaz de Closer? Assemelha-se com o de As Horas). Abaixo, a peça para À Procura da Felicidade repete a "fórmula" (não gosto muito da palavra): predominância do branco, pouquíssimos elementos, os personagens em poses "humanas", não-artificiais - a foto é a mensagem.
À Procura da Felicidade
Os cinco cartazes acima são limpos; é o que têm em comum e é o que mais me agrada. As artes de filmes de suspense e terror também costumam ser limpas. O vazio é mais assustador do que o cheio, não acham? Um pôster com muitos elementos torna-se confuso. Ao dispersar nossa atenção sobre inúmeros itens, tornamo-nos menos propensos ao susto. É por isso que filmes destes gêneros procuram gerar tensão prévia no espectador. Quando tenso, ele está concentrado, focado - e com medo. No cartaz de Jogos Mortais 4, se além daquela cabeça na balança, tivéssemos pernas e braços amputados, dedos e outras partes do corpo espalhadas por todos os lados, não seria tão sinistro, seria apenas nojento.
Os próximos cartazes são menos interessantes (para mim!) - mas aposto que para os fãs de aventuras fantásticas, o pôster do Senhor dos Anéis número 1 é sensacional.
Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel
Homem-Aranha
Harry Potter e a Ordem da Fênix
American Pie
Astérix nos Jogos Olímpicos
Filmes de aventura e comédia geralmente trazem o elenco inteiro no cartaz, é ou não é? Há também uma disposição quase que sagrada dos personagens na foto: o protagonista ocupa o centro, em primeiro plano, e os demais aparecem à direita e à esquerda do principal, em níveis mais afastados, como a disposição dos pinos de boliche ou das bolas de bilhar antes da primeira tacada. Geralmente, no caso das fotos para aventuras, eles têm uma pose artificial: às vezes de peito estufado, queixo ligeiramente baixo e olhar penetrante, frequentemente estão de lado e com o pescoço virado.
fundo vivo, em geral uma imagem carregada em efeitos visuais e colorida. Elementos sobrepostos é outra característica: reparem como o pôster do Astérix se assemelha com o do Senhor dos Anéis - personagens no alto e uma imagem complementar e com menor peso abaixo. Tem que haver movimento no cartaz, ação! Comparem-nos com o de As Horas (é capaz de ouvirmos o tic-tac do relógio de tão silencioso que é seu cartaz).
American Pie até foge parcialmente à regra: o elenco todo está lá, até aí nada de diferente; decotes e gargalhadas, tudo certo para um teen movie. Mas não é de todo "poluído", como costumam ser os cartazes de comédia pastelão! Os atores vestem preto e o fundo é branco. Simples. Não há outro elemento senão aquela torta de maçã. Trata-se de uma boa arte.
Na realidade, todas elas são boas - para quem é o público-alvo. Como diretor de arte, seria tarefa árdua para mim criar o pôster de Velozes e Furiosos ou Harry Potter. Mas é por essas e outras que publicidade não é e nunca será arte. É ciência, é negócio. Não devemos criar para satisfazer nosso ego. Criamos para vender.

5 comentários:

Flávia Araujo disse...

interessante!!!

Pedro Paulo de Moraes Lopes disse...

q bom linda, o do HP foi em sua homenagem =)

Flávia Araujo disse...

eu percebi! =)

tima disse...

eu sou suspeita pra opinar sobre vários.. mas eu simplesmente adoro o do homem-aranha

Pedro Paulo de Moraes Lopes disse...

O do HA é mto bom sim, gosto dele. Sem exageros, boa combinação de cores, transmite ação, etc. Tudo no seu lugar.

Mas pode opinar sobre vários!! haha

 
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