quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Oppinião: GATE, Sendas e Gabeira.

O comandante do
GATE - a Tropa de Elite paulista - afirma que a ação da polícia em Santo André foi correta e a operação bem-sucedida. Como? Uma operação
bem-sucedida, na minha opinião, é aquela em que, na pior das hipóteses, o seqüestrador sai ferido e a vítima, ilesa. O melhor dos mundos, é claro, se dá quando nem o criminoso nem a pobre da vítima saem feridos - e aquele é preso. Não foi muito bem isso que nós vimos no caso de Santo André. Nayara, a amiga, levou um tiro na boca e, sorte, sobreviveu. Eloá levou um tiro na cabeça e morreu. Desculpe comandante, mas a polícia passou longe do sucesso. As lambanças se acumulam.
Eles alegam ter havido um tiro, o que justificaria a explosão da porta e a entrada no apartamento. Assistindo à análise dos vídeos, confesso que está difícil de acreditar nesta versão. Para mim a explosão veio antes, e os tiros de Lindemberg a seguiram. De qualquer maneira, se houve um tiro antes, a explosão não era a solução. No primeiro caso, o da explosão antes dos tiros, a invasão do apartamento se faz precipitada. No segundo, o do tiro antes da explosão, a invasão se faz desesperada - isto é, tarde demais. Não importa saber quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha. O fato é que eles levaram quatro dias (!) negociando com o garoto. No quinto, já exaustos e impacientes, decidiram resolver a parada na força. O que fica de mais evidente nesta história toda é a inabilidade da polícia em negociar.
E o que dizer do retorno da Nayara ao apartamento? Mesmo que tenha sido decisão dela, eles não poderiam permitir. Ela sobreviveu, ainda bem!, caso contrário a operação teria sido ainda mais desastrosa. E agora, ela poderá dizer se o tiro levou à explosão ou se foi a explosão que levou aos tiros, resolvendo uma discussão que, para mim, não tem muito sentido.
Depois de uma semana inteira de horror em Santo André, Renato Machado me dá bom dia na segunda-feira, dia 20, assim: "O empresário Arthur Sendas levou um tiro nesta madrugada em seu apartamento e morreu". Fiquei chocado antes mesmo de saber da história absurda do motorista. Eu já admirava Sendas por ser um grande empresário, e ainda mais por se tratar de um vascaíno ilustre, torcedor apaixonado e grande benemérito. Vá lá que ele morresse de enfarto fulminante ou pneumonia. Mas ser assassinado em casa, com um tiro no olho, por um empregado - meu Deus, me perdoe, mas eu quero matar este empregado! E o rapaz ainda diz que foi acidental. O disparo pode ter sido (vamos fingir que acreditamos nele). Mas só o fato de ele ir à casa do Sendas com uma arma escondida para conseguir seja lá o que fosse, já é condenável. É odioso.
Este caso me fez repetir uma crítica que exponho de vez em quando: nós temos que mudar a nossa mentalidade. No Brasil, costuma-se pensar que todo empresário é corrupto, que ganha dinheiro fácil e que, só porque tem uma soma considerável em sua conta corrente, é obrigado a dar para os pobres coitados que se endividam. É esta a mentalidade que se cultiva nos discursos de políticos demagogos que insistem em colocar em lugares antagônicos os ricos e os pobres, alimentando uma espécie de ódio destes por aqueles. Enquanto os brasileiros acharem que ser rico é crime, nós vamos continuar na merda.
Não sei se passou pela cabeça deste motorista que o seu patrão tinha obrigação de lhe ajudar com suas dívidas, mantendo-o empregado. Só digo aqui o que percebo existir no Brasil. Aqui, pobres odeiam ricos, empregados acham seus patrões filhos-da-puta. Existem patrões que o são, como existem empregados assim. Enfim, a morte de Arthur Sendas deixa o Brasil mais pobre. Não porque ele tinha uma fortuna. Não falo desta riqueza: esta continua a existir. Falo do espírito empreendedor. Este vai embora com o homem.
Se Fernando Gabeira for eleito prefeito do Rio neste domingo - o que, depois das últimas pesquisas, acho difícil de acontecer -, pelo menos algo de positivo já contará a seu favor e a favor da cidade. Eu não me lembro, durante esta minha curtíssima vida, de algum candidato que tenha sido eleito sem fazer qualquer tipo de sub-publicidade: cartazes, placas, bandeiras, cavaletes e todo tipo de material que suja a paisagem do Rio, irritando aqueles que passam pelas ruas. Não estou dizendo aqui que Gabeira é o herói da ecologia, mas sua eleição abriria um precedente interessantíssimo. Se ele ganha, qualquer gasto com este tipo de propaganda pode vir a ser questionado, criticado, rechaçado. Se houve um cara que conseguiu se eleger sem fazê-lo, porque os próximos precisam recorrer a ela?
Com isso, ganharia a cidade e a própria publicidade. Afinal, tentar convencer alguém a "comprar" uma marca por osmose, pela repetição incessante do nome, da logo e da embalagem, convenhamos, não é nada inteligente. É simplista. É achar que, no fundo, o eleitorado escolherá aquele que lhe vier primeiro à cabeça. Como se o debate de idéias, os programas na TV, o histórico político dos candidatos de nada valessem. Como se os eleitores acordassem no dia da eleição e se perguntassem "Em quem eu voto? Ah, vou votar naquele que me vier à mente primeiro". Não. Ainda bem que não é assim que os cariocas votam. Estamos evoluindo. Essa estratégia pode funcionar para detergentes, chicletes e camisinhas. Mas utilizá-la para vender um candidato a prefeito é reduzir a importância da escolha. É subestimar, acima de tudo, a capacidade de reflexão do eleitor.

4 comentários:

Unknown disse...

Não é o primeiro que não suja as cidades. O Kassab, prefeito reeleito de são paulo, começou com a campanha limpa. Por sinal, ele tem um outdoor mto maneiro. É enorme, mas transparente, então você só vê a paisagem atrás e embaixo temos bem pequeno do lado direito Gilberto Kassab 25.
Bem legal, de qualquer modo, ele honrou sua campanha limpa e com duas conotações. Não sujou as ruas e nem atacou os adversários. Jogou literamente limpo! É uma pena não ter sido eleito. De qualquer modo, o povo agradece! O Gabeira renovou as esperanças do rio.
Meu novo blog:
http://eduardopaesnao.zip.net/

bjs!

tima disse...

geeeente como assim ele não atacou outros políticos? parem com o lance "gabeira o prometido, o messias".. nenhum desses caras presta.. omg ^^ ele não sujou as ruas, mas em compensação a internet e os jornais estavam insuportáveis nas últimas duas semanas..

Anônimo disse...

Privatiza a comlurb.

Já seria um bom inicio.

Pedro Paulo de Moraes Lopes disse...

esse outdoor do Kassab eu não conhecia, mto legal!

gabeira eh um cara ético. concordo foi uma pena ele não ter ganho, nunca fiquei tão orgulhoso de votar em alguém.. só espero na boa que o Eduardo Paes faça um belo governo, não desejo q ele quebre a cara, só sei q perdemos uma ótima chance!

 
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