quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Design para quê? ou Por que mamãe grita tanto com vovó?

As novas gerações de designers industriais devem dedicar mais atenção a um segmento da população que, até hoje, é simplesmente ignorado pela tecnologia: os idosos. Como justificativa, pensem que a tendência é vivermos cada vez mais. Queiram ou não, o número de velhinhos vai aumentar, para tristeza da previdência social e alegria do rei, Roberto Carlos. Os grandes negócios deste séculos serão aqueles que se voltarem para a terceira idade.

Mas não é por este motivo que faço o apelo. A verdadeira razão é a seguinte: quase todos os dias escuto minha mãe se descabelando no telefone com minha avó. É sério, ela surta. Isto porque minha avó, com 83 anos e lúcida, apanha para falar no celular: ou ela se enrola com os botões, ou não ouve o que minha mãe fala do outro lado da linha. Surdez? Bullshit. Ela apenas não colocou o ouvido na altura correta.

Nada, porém, é mais desesperador do que o tal controle remoto da NET. Eu já perdi as contas das vezes que minha vó reclamou com minha mãe que a NET estava "fora do ar" ou "com problema", ou que ela não estava conseguindo mudar de canal. E lá vai minha mãe (às vezes sobra para mim e para minha irmã) até a casa da vovó para resolver o "problema" - porque, como já disse, é impraticável resolvê-lo por telefone. Ao chegarmos lá, eis que encontramos um porta-retrato em frente ao aparelho, bloqueando a transmissão do sinal. Empurramos o porta-retrato para o lado e, voilà, o controle volta a funcionar que é uma beleza. Rimos para não chorar. Com frequência, a culpa é simplesmente de um botão acionado involuntariamente ou não, cuja ação ela não sabe desfazer. E ainda há a porcaria do menu inicial, do qual ela, às vezes, não consegue sair. Minha mãe grita no telefone, repassa a lição pela ducentésima vez e minha avó, pobre, finge que entendeu só para não estressá-la mais.

O que fazemos? Para dar conforto e diversão a nossos velhos precisamos, antes, nos desgastar, enfiando-lhes goela abaixo regras de como usar que, por mais didáticos que sejamos, jamais irão entrar-lhes na cabeça. A não ser que, no passado, vovô ou vovó tenham exercido alguma atividade mais ligada às tecnologias "de ponta" da época e adquiriram, ao longo do tempo, a inteligência necessária para operá-las e se adequar mais facilmente às suas atualizações. Na maioria dos casos, entretanto, é tudo muito, mais muito entrópico para eles. Tudo evoluiu muito rapidamente e o processo os excluiu.
  Vovó consegue jogar Wii, mas não consegue mudar o canal da TV: como pode? Design.

Não tenho dúvidas de que a solução está na mão dos desenhistas industriais. Estes caras deveriam acordar todos os dias e repetir, antes mesmo de se levantarem da cama: "Menos é mais", "Seja intuitivo, seja intuitivo, seja intuitivo". Reparem no controle da NET: é botão demais. Minha avó não quer saber se sua TV tem mais de 200 canais. Ela assiste a no máximo 4! Diminuam o número de botões e aumentem o tamanho daqueles que restarem. Velhos não enxergam direito! Iconografia nem sempre é a melhor ideia. Se eu fosse desenhar o celular da minha avó, faria-o com duas teclas enormes: "Atender" e "Ligar para Hedu" (minha mãe). Pronto.

Definitivamente, da mesma forma que quando alguém não entende seu anúncio a culpa é sua, não do espectador (por mais idiota que ele seja), se nossos avós apanham da tecnologia, o problema está na tecnologia, não em nossos avós.

3 comentários:

Flávia Araujo disse...

O mais engraçado ao ler isso tudo é que eu consegui imaginar a cena da D. Dione com a Tia Hedu. Hahahahaha. E outra coisa, pelo menos a sua avó deixa o celular ligado, dei um cel para o meu avô, mas ligá-lo pra quê?

Mariana disse...

Adorei!!! Hahahahahaha!

Pedro Paulo de Moraes Lopes disse...

hahaha Deve servir para segurar papel! Valeu!

 
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