sábado, 27 de junho de 2009

Jukebox: Especial Michael Jackson

Eu estava no colégio no momento em que soube do atentado às torres do World Trade Center, em 11 de setembro de 2001. Como há oito anos, me via novamente em uma sala de aula nesta quinta, 25 de junho, quando me avisaram: Michael Jackson morreu.
Flavinha me mandou um torpedo. Nunca o nome foi tão apropriado à mensagem SMS que acabara de ler: era uma bomba. Inacreditável. Surreal. Minha primeira reação foi a não-reação, para depois passar a nota adiante, quase que automaticamente - chamei a atenção de um colega sentado ao lado e lhe mostrei o recado no celular, já prevendo que a notícia pronunciada seria insuficiente para fazê-lo acreditar. Ficamos os dois aterrados por alguns minutos, olhando para frente, ouvindo o professor falar e falar - Michael Jackson morto. Era preciso fazer correr. Minutos depois, Marcos passou a nota para mais um e assim ela se espalhou, pouco a pouco. Ninguém acreditava. Pensavam que estávamos de gozação. Por entre as palavras incessantes do professor, fazíamos mímicas na tentativa de dar o recado ao pessoal do outro lado da sala. Um choque. Um verdadeiro terremoto sacudiu os quatro cantos do mundo.
Engraçada esta sensação que sucede à tragédia. No dia seguinte, eu só queria ouvir as músicas de Michael Jackson. Nunca tive um CD do "rei do pop"*, tampouco baixava seus hits da internet. Ouvia-os nas rádios diariamente - e em alguns casos não sabia que aquela voz era a dele. Na manhã de sexta, 26, porém, liguei o rádio a caminho do trabalho só para ouvir Michael - e, pasmem, nenhum programador inteligente criou uma playlist especial, em homenagem ao astro. Ora, eu não era o único assaltado por aquela vontade incontrolável. Lojas de CD do mundo inteiro venderam álbuns de Michael Jackson como há muito não acontecia! Que loucura esse troço. Como explicá-lo? Neste momento estou ouvindo uma das 18 músicas que baixei do cara, prestes a fazer um CD e pô-lo para tocar por mais uma semana ou duas; até passar, encher o saco, voltar ao normal.
Acho que é tudo fruto de uma grande comoção. Suas músicas são boas. Algumas delas muito boas. Se não fossem, não haveria comoção que me fizesse buscá-las. Naquela manhã, a única que consegui ouvir foi "The Girl is Mine", uma das melhores. Nesta Jukebox especial, coloco para tocar "Heal the World", na inesquecível performance durante a final do Superbowl de 1993; e "ABC", de 1970, quando Michael ainda era um dos cinco Jacksons (ou melhor, era o Jackson, dos cinco).
Acho que Michael Jackson era um cara bom de coração e caráter. É um belo exemplo de como se construir um superstar, e de como condenar um ser humano pelo resto de sua vida. O Michael adulto e polêmico é fruto da infância e adolescência roubadas, da submissão ao autoritarismo do pai e às pressões de investidores preocupados tão-somente em enriquecer com seu sucesso e talento. Não critico o papel dos empresários do showbizz, eles são importantes, eles descobrem e promovem caras que nós passamos a adorar, pessoas cuja arte nos torna a vida mais agradável. Empresários muitas vezes são responsáveis por profissionalizar e ajuizar o espírito rebelde da maioria dos artistas, pois sabem que, entre um rompante e outro, sua mina de outro pode pôr tudo a perder. E convenhamos que é sempre melhor tê-los vivos e comportados (leia-se profissionais), do que indomáveis e mortos. Mas com Michael, parece que houve um excesso, principalmente quando ele era garoto.
Depois do que se contou sobre sua vida nos últimos dias, dá para compreender até certo ponto o por quê daquele parque de diversões em seu rancho solitário, ou da mania de cobrir o rosto dos filhos quando saía com eles na rua: protegê-los dos flashes e holofotes precoces? É razoável. Ok, ok, concordo que, neste momento de compaixão inflada, é normal que o tratem como "vítima de um sistema", e que acabamos comprando a história por este ângulo. Mas é claro para mim o dedo nocivo da indústria cultural sobre a construção da personalidade do astro - nocivo pois em excesso.
É uma pena que minha geração (dos nascidos em meados de 1980) tenha perdido o auge do cantor. Pegamos o início de sua decadência, já no processo de transformação da cor da pele. Lembramos dele negro e cheio de energia, mas lembramos mais claramente das polêmicas, do corpo esquelético por trás da máscara, do filho sacudido na janela, das acusações de pedofilia. Por ora, prefiro acreditar que Michael tivesse tido mesmo vitiligo e que nunca bolinou nenhum garotinho em Neverland.
Descanse em paz.
*P.S.: Lá em cima fiz questão de colocar "rei do pop" entre aspas pois para mim existe um outro cara que é igualmente um monstro da música! Sua figura é também excêntrica, tem uma coleção de óculos indiscretos, é gay, mas quando abre a boca e desce a mão sobre o piano, uau, faz todos arrepiar.

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